sábado, 4 de agosto de 2012

... o deserto

Cruzamos a fronteira de Israel para a Jordânia com pique total para encarar uma das maiores aventuras da nossa viagem: passar uma noite acampados no deserto. Vivemos essa experiência em Wadi Rum, também conhecido como Vale da Lua, um infinito de areia e rochedos onde, desde tempos pré-históricos, vivem centenas de tribos beduínas.
Não vamos nos esquecer nunca dessa passagem por duas razões. A primeira, pela beleza do espetáculo que a natureza nos proporcionou durante a madrugada. A segunda, pelo trauma de passar uma noite na mais completa solidão no meio do nada. Não me lembro de ter sentido tanto medo na vida e me permito adaptar um dito popular para descrever essa noite, que foi de “deserto, terror e pânico”.
Vou tentar narrar essa aventura na ordem cronológica dos fatos para evitar que apenas a parte traumática apareça. Vamos lá:
Depois de cruzar a fronteira de Israel para a Jordânia, tomamos um táxi e andamos 60 quilômetros para fugir da civilização e chegar ao deserto de Wadi Rum. Já era fim de tarde e estávamos ansiosos para curtir o pôr-do-sol entre as dunas e ver as paisagens, famosas por estarem na antiga rota comercial entre África e China e por terem sido base das operações do oficial britânico T.E. Lawrence, durante a Revolta Árabe de 1917.
No impulso, negociamos rapidamente com um guia, chamado Oman Mudalab, e entramos num jipe 4x4 caindo aos pedaços (sem farol, sem freio, com fios soltos para a ligação direta e com a embreagem em frangalhos). Com um sorriso simpático, ele começou o passeio e nos levou para o tão aguardado acampamento no deserto. Já esperávamos encontrar uma simples estrutura montada num chão de areia batida, apenas com lonas e mantas de camelos, sem banheiro, água corrente e energia elétrica. E, até então, estávamos super felizes por poder viver um dia como um beduíno.






Assistimos a um pôr-do-sol maravilhoso no deserto, fizemos um piquenique com pistaches, biscoitos e Pepsi... Tudo feliz!










Quando o sol se pôs, o guia foi providenciar nosso jantar e disse que voltaria ao acampamento em 5 minutos com um grupo de turistas para nos fazer companhia durante a refeição. Acreditamos! Realmente, ele voltou logo com um banquete: frango assado, arroz com açafrão, iogurte de sobremesa, Coca-Cola... Uma delícia! Só os turistas é que não apareceram. E aí ele inventou uma história sem pé nem cabeça (de um acidente de trânsito com o grupo) para dizer que passaríamos a noite sem a presença de outros hóspedes ali. Até então, não víamos problema nisso.



Só que a noite chegou e o guia veio com outra conversa estranha de que ele também não dormiria no acampamento, e sim numa vila de beduínos a cerca de 10 quilômetros dali. Nessa hora, vacilamos feio e não pedimos para voltar com ele. Na empolgação com a beleza do deserto, achamos que seria lindo passar uma noite ali, no meio do nada! Oman então se despediu dizendo que poderíamos ficar tranqüilos e seguros, porque ninguém apareceria ali no deserto para nos perturbar. Ele também garantiu que não precisávamos ter medos de animais, porque apenas aves inofensivas viviam ali naqueles rochedos.

A única recomendação que ele nos fez foi para não nos afastarmos do acampamento por dois motivos. Primeiro, porque o deserto é traiçoeiro e era fácil se perder naquele lugar sem referências. Segundo, porque algum jipe doidão, que cruzasse as dunas sem farol ou freio, poderia não nos ver e nos atropelar. Depois disso, Oman se foi e começava assim uma longa noite.

A lua cheia estava encantadora e, para nossa sorte, clareava o deserto. Mais uma vez empolgados, pensamos em curtir o luar numas pedras bem ao lado do acampamento. Foi nessa hora que vimos um jipe escondido atrás do rochedo. Com um certo receio, nos aproximamos do carro com nossa lanterna e constatamos que se tratava do jipe de Oman. Jogamos luz dentro e em volta do carro, gritamos o nome dele repetidas vezes, mas, a única coisa que ouvíamos era o eco da nossa própria voz. Pronto! O medo começou a se instalar. Decidimos então voltar mais para perto do acampamento e nos sentar numa duna para tentar acalmar um pouco. Mas não tivemos sorte. Do ponto onde estávamos, ouvimos uma porta rangendo dentro do acampamento, misteriosamente. Mesmo de longe, gritamos novamente e jogamos a luz da lanterna. E nada! Ninguém respondia. A partir daí, o medo se transformou em pânico. Ficamos paralisados na duna, sentados no chão. A beleza do deserto perdeu a graça, as sombras da lua cheia confundiam nossa visão e até barulhos internos dos nossos corpos (uma barriga roncando, uma respiração mais profunda) nos assustava naquele silêncio infinito.


Foram 9 horas nesse desespero, com os pensamentos mais pessimistas que o medo pode produzir. Temíamos por um assalto, por um sequestro, enfim, pelo pior! De vez em quando, avistávamos o farol de jipes no horizonte. Até pensamos em tentar dar sinal com a lanterna, mas logo lembramos que ali é que realmente poderia morar o perigo, pois estávamos num ponto em que o deserto faz divisa da Jordânia com a Arábia Saudita.
Não conseguimos pregar o olho a noite inteira. Lá pelas 3h da madrugada, o Renato se acalmou um pouco com o pensamento de que, se alguém quisesse nos fazer mal, já teria feito há muito tempo. Tentei me agarrar a esse argumento para curtir um pouco a bela paisagem ao nosso redor, mas confesso que não fui muito feliz nessa tentativa. Continuei com o coração disparado e o estômago gelado até o amanhecer. Isso sem falar do frio! Todo o calorão do deserto desaparece durante a madrugada e a areia parece estar molhada. A nossa salvação é que tínhamos, na mochila, uma jaqueta e uma manta.






Finalmente, às 5h20, o sol nasceu. Não consigo descrever o alívio que sentimos ao ver tudo ali mais claro, ao alcance dos nossos olhos. Então, tivemos coragem de deixar a duna e voltar ao lugar onde o carro de Oman estava estacionado na madrugada. Para nossa surpresa, não havia nem sinal dele mais. De volta ao acampamento, vimos apenas algumas pegadas estranhas perto da nossa tenda, onde deveríamos ter dormido. Para nós, tudo isso ainda é uma incógnita!
E o importante é que o Oman, de quem confesso guardar um certo receio, apareceu com mesma cara de sempre às 8h no acampamento e nos tirou dali. Graças a Deus!!!
Agora, que estamos sãos e salvos longe do deserto, acreditamos ter entrado numa paranoia, que todo o medo que sentimos foi resultado da nossa fértil imaginação e que nos perdemos entre fantasias e invenções. Sei lá! Ainda estou tentando apagar da mente as partes traumáticas para levar comigo apenas as boas lembranças dessa inesquecível noite ao luar.

10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Glória! Não mata a gente de susto não! :)
      Graças a Deus deu tudo certo e vcs estão bem!!!!
      E que vençam as boas experiências, né?
      Beijoss!!

      P.s: tirei o comentário anterior para arrumar um erro de português :)

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  2. Boas experiências mesmo!!! Que isso!!! Vcs são doidos!! kkkkk, agora que traição é essa Glória? Tomando Pepsi???????? hahahaha
    Boa viagem!

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  3. Confesso, embora seja uma experiência única, fiquei aflito com o que poderia acontecer com vocês nesta aventura. Mas valeu, como não tinham a conciência plena de como seria esta aventura e se tivessem não a faria, puderam experimentar o que seria viver uma noite assim e isso por si só é a maior de todas as recompensas.
    Fico feliz por vocês, felicidades e boa viagem!

    Leopoldo Alves

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  4. Doce loucura :)! O importante é que tudo deu certo e só as boas lembranças hão de ficar. Bjo gde da tia vilma.

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  5. oi Primos!

    Que saudade de voces !!!
    voces são loucos??? ... Sim ,sim eu já saiba. hehehe..
    Se cuidem tá!!
    Nós estamos nos divertindo muito com o Blogs de voces. No sábado falei com a tia e ela comentou que está acompanhando as publicações de voces. Ontem fizemos um churrasquinho aqui em casa com os primos Beto, Lis e familia...e o Bruno e familia . Comentamos sobre o blog de voces . Muito Divertido.Ah! passei para as minhas amigas do trabalho... todas estão ligadas . Beijos mil !

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  6. Uia, só de ler deu frio na espinha. Que loucura!
    Bjs

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  7. Nossa fiquei super tensa lendo imagina voces!quase um filme de terror..mas com final feliz!rs espero que o por do sol e a lua tenha compensado!!

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  8. Voces precisam de um desse! http://international.findmespot.com/

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  9. gogoya de deus..que susto..rs. Beijos e fiquem com deus...e juizo viu?
    Débora Amaral

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