segunda-feira, 17 de setembro de 2012

... o aperto

Se você é adepto a um estilo mais econômico de viagem, é bom riscar a Rússia da sua lista. Nas últimas duas semanas aqui, passamos apertos tão cabulosos para manter o nível “pão-duragem” da viagem que já daria para escrever um livro.
Antes de narrar nossas experiências num testamento, quero começar com um esclarecimento importante: quem está disposto a pagar pelo menos 200 euros de diária de hotel (o equivalente a R$ 600) e 20 euros (R$ 60) por uma refeição simples, como um espaguete a bolonhesa, pode vir logo para a Rússia, porque o país é lindo, encantador.
Mas esses preços estão um pouco distantes das nossas possibilidades atuais. Até agora, cruzamos quase 15 países com a meta de gastar de 50 a 70 euros por diária de hotel e cerca de 15 euros por refeição individual. Esse patamar é praticamente impossível de ser atingido em Moscou e em São Petersburgo, pois as cidades só têm estrutura para um turismo de luxo. Para as viagens independentes, no estilo “mochileiro”, como as que fizemos em Paris, Madrid, Roma, Cracóvia, etc., não há infraestrutura na Rússia. Aliás, Moscou não conta sequer com centros de informações turísticas. Os poucos mapas que temos estão escritos no nosso alfabeto (latino) e, nas ruas, as placas são apenas em russo (alfabeto cilírico).
Para vocês terem uma ideia do que estou falando, vou contar um pouco da nossa saga em busca de um hotel. Fizemos uma pesquisa na internet antes de desembarcar aqui e nos assustamos com os preços. Por isso, decidimos não reservar nada para tentar pechinchar um preço mais acessível no momento da chegada. Doce ilusão! Tivemos que passar a primeira noite num hostel (tipo um albergue), num quarto abafado e sem janela, com apenas um beliche e tão apertado que, se colocássemos as malas no chão, era impossível caminhar ali dentro. Detalhe importante: o banheiro era no corredor, compartilhado com outros hóspedes, sujo, com um cheiro horrível e água empoçada na ducha. Como se não bastasse tudo isso, à noite, um dos hóspedes chegou bêbado ao hotel, importunando os demais turistas. Para tentar acalmar o bebum, um amigo dele saiu do quarto de cueca e começou uma gritaria louca no meio do corredor! Um barraco! Toda essa “noitada” nos custou 45 euros.
Traumatizados, saímos cedo do hostel e fomos procurar outra opção. A recepcionista nos indicou um outro albergue ali pertinho que, segundo ela, tinha mais conforto. Acreditamos e nos mudamos rápido. Chegamos ao segundo hostel e ficamos bem animados. Pelo mesmo preço da noite anterior, teríamos um quarto maior, com cama de casal, janela... Tudo limpinho. Só o banheiro é que continuava sendo compartilhado. Mas pensamos que seria suportável até conseguirmos um hotel de verdade. No entanto, a noite chegou com uma surpresa desagradável. O hostel estava lotado de imigrantes, e não de viajantes como nós. Um terror! Na sala, umas 15 pessoas (indianos, sérvios e uns russos do interior do país) assistiam uma luta estranha na televisão; na cozinha, pelo menos outra dúzia de hóspedes improvisava um jantar com macarrão instantâneo; e, no quarto vizinho ao nosso, havia 10 beliches lotados de indianos, ou seja, pelo menos 20 pessoas se amontoavam ali. Digo “pelo menos” porque, pela confusão, arrisco dizer que dormia uns três em cada cama! Rsrsrs....
Pensam que acabou? Não!!! No meio desse caos, pensamos em tomar um banho rápido e nos trancar dentro do quarto quietinhos, só esperando o dia clarear para sair dali. Mas, para nossa tristeza, a ducha era gelada, algo insuportável no frio de 15 graus que fazia àquela altura da noite.
Depois desses dois traumas com hostel, decidimos subir um pouco o orçamento para a hospedagem e pagar uns 60 euros por diária. Então, pesquisamos novamente na internet e encontramos uma boa opção, num quarto simples, mas limpinho, com banheiro privado e cama grande de casal. Mas aí, tomamos uma surra para encontrar o danado do hotel. Com exceção das grandes redes internacionais, os hotéis em Moscou não têm placas indicativas na porta. Eles ficam “escondidos” dentro dos prédios e os turistas que passam na rua nem sonham que ali dentro há um quarto para ser reservado. Por isso, antes de fazer a reserva, fomos ao endereço encontrado na internet conferir a localização. Depois de mais de 40 minutos de procura numa única rua, com perguntas em vários cafés da vizinhança, chegamos ao hotel. Mas para a nossa decepção, a recepcionista não falava nada de inglês e não conseguiu entender que queríamos apenas um quarto para dormir. Diante disso, voltamos ao nosso antigo hostel e fizemos a reserva pela internet. Com o comprovante da reserva na mão, achamos que seria tudo mais fácil. Ledo engano! Ao efetuar a reserva, o nome do estabelecimento que saiu no papel era completamente diferente do que havíamos visitado... Ninguém merece tanta confusão!
Aí, fomos obrigados a voltar ao hotel para confirmar se a reserva estava correta e se nosso quarto era mesmo naquele estabelecimento. Depois de alguns bons minutos de mímica com a recepcionista, vimos que estava tudo certo. Finalmente, tivemos que voltar ao hostel de novo, pegar as malas e só então fazer o check-in. Apenas nessa empreitada, perdemos pelo menos uma tarde de passeio e ganhamos alguns cabelos brancos de tanto estresse. Mas valeu a pena! Agora estamos num hotelzinho bem honesto. Nada de luxo, mas com tudo limpinho e confortável. Sei que vocês vão me chamar de exagerada (o que é verdade), mas perto dos apertos que passamos dormindo ao lado de uma legião de imigrantes mal-encarados, estou com a sensação de estar num hotel 7 estrelas estilo Dubai. Rsrsrs....

2 comentários:

  1. Pois no calor que faz aqui eu que estou tomando banho gelado!!
    Mimica deve ter sido engraçado, tentem desenhar também, desenho sempre salva já dizia meu professor de Desenho Técnico II! haha

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  2. Ai, Gloria!! Vc eh muitooo engracada! Adoro suas descricoes!!
    Bjoss e boa sorte, viu?

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